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8 de dez. de 2015

Hinologia e Teologia

Por Thomas Magnum

A música é uma peça presente em nossos cultos, a adoração não pode ser limitada somente ao momento em que cantamos em nossos ajuntamentos, a adoração permeia toda vida cristã, a adoração é o cerne da piedade cristã. Ninguém poderá adorar a Deus sem uma vida cristã, sem ter uma união mística com Cristo através do Espírito Santo, sem ser guiado por Ele por meio da Santa Escritura.

É fato que vivemos uma crise na hinologia, não que isso seja por causa da escassez de hinos, mas, pela afetação pragmática, utilitarista e pós-moderna da nossa era. Maciçamente temos no cancioneiro brasileiro atual um apanhado de “músicas cristãs” completamente desprovidas de precisão teológica, conteúdo bíblico e até esteticamente pobres em suas letras, harmonias e melodias. Uma música não precisa ser extremamente complexa para que seja uma boa música, no contexto em que tratamos na verdade ela precisa de conteúdo, conteúdo é a parte fundamental para um hino, isso não descarta a importância da construção harmônica, do ritmo, dos arranjos que serão empregados na canção.

Temos algumas linhas divergentes em nosso meio sobre o cancioneiro evangélico utilizado no culto público, temos um grupo que defende que a música não precisa ter uma pedagogia e que somente deve ser uma expressão livre de adoração ainda que ela possua “alguns erros”, dizem esses, que não podemos julgar a intenção do compositor. Me oponho a essa linha de pensamento porque desta forma também não podemos condenar heresias porque não poderemos julgar a intenção do herege.  Outro grupo defende que a música não precisa ser precisa teologicamente, mas, a liberdade de expressão deve ser considerada e a licença poética também. Evidentemente, a licença poética não pode ser negligenciada na poesia e vemos isso nos salmos bíblicos, contudo, expressões poéticas que se utilizam da licença não podem ultrapassar o limite da doutrina, do dogma bíblico. A licença poética está delimitada pelo corpo doutrinário da Bíblia. Toda e qualquer atividade relacionada à igreja de Deus deve ser dirigida pela Escritura, o sola scriptura da Reforma ensina isso. O culto público deve ser seguido por quem o estabeleceu, Deus.

Defendo que a formação e utilização do cancioneiro evangélico deve ser paramentado pela Palavra de Deus. Logo se eu canto que “Deus não rejeita oração” como diz uma música, estou indo contra uma verdade da Escritura porque Deus rejeita oração, vejamos:

Igualmente vós, maridos, coabitai com elas com entendimento, dando honra à mulher, como vaso mais fraco; como sendo vós os seus co-herdeiros da graça da vida; para que não sejam impedidas as vossas orações. 1 Pedro 3:7

Tu, pois, não ores por este povo, nem levantes por ele clamor nem oração; porque não os ouvirei no tempo em que eles clamarem a mim, por causa do seu mal. Jeremias 11:14

Perceba que não podemos cantar algo que seja contrário a Palavra de Deus, com isso estaríamos acrescentando algo as Escrituras e sobre isso nos diz a Bíblia que

Nada acrescentes às suas palavras, para que não te repreenda e sejas achado mentiroso. Provérbios 30:6

Tudo o que eu te ordeno, observarás para fazer; nada lhe acrescentarás nem diminuirás. Deuteronômio 12:32

O que mais vemos hoje são músicas que centralizam o homem, que falam mais da necessidade do indivíduo, suas lutas e agruras, mas, ficam devendo no que se refere ao propósito do louvor a Deus, afinal o que é louvor a Deus? É contraditório quando temos um momento de louvor no culto – comumente é chamado assim o momento dos cânticos – e as músicas são antropocêntricas, o louvor ali não é a Deus, mas, ao homem. Se o louvor é prestado a Deus então quem deve ser exaltado e enaltecido é Deus. Os hinos podem falar de nós, mas, depende como isso é empregado vejamos um exemplo bíblico no salmo 51 escrito por Davi:

Tem misericórdia de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; apaga as minhas transgressões, segundo a multidão das tuas misericórdias. Lava-me completamente da minha iniquidade, e purifica-me do meu pecado. Porque eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim. Contra ti, contra ti somente pequei, e fiz o que é mal à tua vista, para que sejas justificado quando falares, e puro quando julgares. Eis que em iniquidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe. Eis que amas a verdade no íntimo, e no oculto me fazes conhecer a sabedoria. Purifica-me com hissopo, e ficarei puro; lava-me, e ficarei mais branco do que a neve. Faze-me ouvir júbilo e alegria, para que gozem os ossos que tu quebraste. Esconde a tua face dos meus pecados, e apaga todas as minhas iniquidades. Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito reto. Não me lances fora da tua presença, e não retires de mim o teu Espírito Santo. Torna a dar-me a alegria da tua salvação, e sustém-me com um espírito voluntário. Então ensinarei aos transgressores os teus caminhos, e os pecadores a ti se converterão. Livra-me dos crimes de sangue, ó Deus, Deus da minha salvação, e a minha língua louvará altamente a tua justiça. Abre, Senhor, os meus lábios, e a minha boca entoará o teu louvor. Pois não desejas sacrifícios, senão eu os daria; tu não te deleitas em holocaustos. Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus. Faze o bem a Sião, segundo a tua boa vontade; edifica os muros de Jerusalém. Então te agradarás dos sacrifícios de justiça, dos holocaustos e das ofertas queimadas; então se oferecerão novilhos sobre o teu altar.

Observe a forma que Davi fala dele no salmo, fala de sua dependência e sua insuficiência, do seu pecado, de sua queda, da misericórdia de Deus para com ele. Davi se humilha diante do Rei, diante daquele que é Soberano. Claro que meu objetivo nesse pequeno texto não é fazer um exame da adoração de Israel através da salmodia, nem discutir sobre a salmodia inclusiva ou exclusiva, meu ponto aqui é que as composições devem estar paramentadas pela Bíblia e não pelo senso comum ou por uma teologia sem Bíblia, o povo de Deus precisa cantar o que Deus disse, porque o que eu digo é falho, mas o que Deus disse não é. A vantagem de cantarmos a Palavra é que estaremos cantando algo inspirado por Deus. Tanto no Antigo Testamento como no Novo Testamento temos vários hinos que o povo de Deus cantou no passado, ora, se está na Palavra cantemos a Palavra. Nos diz o Apóstolo Paulo escrevendo aos Colossenses:

A palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando ao Senhor com graça em vosso coração. Colossenses 3:16

Veja que o texto nos diz que temos que ensinar e admoestar uns aos outros também com salmos, hinos e cânticos espirituais. Nosso cancioneiro deve ter também um propósito pedagógico, devemos adorar a Deus em nossos momentos de cânticos, mas essa adoração deve ser racional, no sentido que precisamos cantar sabendo o que estamos cantando, precisamos cantar a verdade de Deus. Existem muitos benefícios em cantarmos a Palavra, veja que o texto diz – A Palavra de Cristo habite em vós abundantemente – e note que depois Paulo fala da hinódia da igreja, como deve então ser os hinos? Eles devem ter abundante presença da Palavra de Cristo. E onde está a Palavra de Cristo? Na Escritura. Logo concluímos que os hinos cantados por nós devem ser bíblicos e não  "certas músicas evangélicas".  A igreja deve cantar a Palavra de Deus. Evidentemente Deus dá criatividade a seus filhos, criatividade essa que deve estar dosada de bom gosto, sem exageros tanto harmonicamente quanto em arranjos, solos instrumentais, melodias e ritmos. Deixo claro que estou tratando aqui da utilização dos hinos no culto e não em outros ambientes artísticos, esse será tema para outro texto.

Precisamos cantar as Escrituras, Deus nos deu sua Palavra e ela é a fonte de todo bem para igreja, não desprezemos o que Deus nos deu. Se Deus não se importasse com o que se canta no culto ele não tinha nos dado o livro dos Salmos, nem teríamos presente nas Escrituras hinos no Novo Testamento. Não é bom irmos além das Escrituras, nem subtrair o que nelas é ensinado.

Nos vale a advertência bíblica:

Porque eu testifico a todo aquele que ouvir as palavras da profecia deste livro que, se alguém lhes acrescentar alguma coisa, Deus fará vir sobre ele as pragas que estão escritas neste livro; E, se alguém tirar quaisquer palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte do livro da vida, e da cidade santa, e das coisas que estão escritas neste livro. Aquele que testifica estas coisas diz: Certamente cedo venho. Amém. Ora vem, Senhor Jesus.

Apocalipse 22:18-20
 

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