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7 de ago. de 2015

Uma introdução sobre arrependimento na perspectiva do Thomas Watson

Por Morgana Mendonça dos Santos

O livro A Doutrina do Arrependimento (Editora PES) tem marcado minha vida de forma singular, o que irei expor nesse pequeno rascunho será pontos importantes sobre o que significa arrependimento numa perspectiva puritana de um teólogo relevante em seu tempo e super admirado no nosso. Thomas Watson foi ministro da Igreja de Santo Estevão, Walbrook, no século dezessete. Nascido em 1620, Thomas Watson estudou em Cambridge (Inglaterra). Em 1646, iniciou um pastorado de dezesseis anos em Londres. Entre suas principais obras estão o seu famoso Body of Pratical Divinity (Compêndio de Teologia Prática), publicado postumamente em 1692. Para mais informações sobre Watson pode clicar aqui


É perceptível como hoje quase não existe nas nossas igrejas um ensinamento sobre a doutrina do arrependimento. Pouquíssima ênfase é dada na intolerância sobre viver uma vida alienada em relação à prática da confissão e arrependimento. O conceito sobre arrependimento tem sido travestido de influências humanistas e/ou psicológicas. Pergunte-se: o que é arrependimento? E tente evitar - ao máximo -usar conceitos relativizados e pluralizados.

Antes do grande escopo sobre componentes do arrependimento descrito pelo Watson, que seriam: (1) percepção do pecado, (2) tristeza pelo pecado, (3) confissão de pecado, (4) vergonha pelo pecado, (5) ódio pelo pecado e (6) abandono do pecado. Temos o significado do arrependimento em sua perspectiva como uma graça do Espírito de Deus pela qual o pecador é movido a humilhar-se interiormente e é reformado visivelmente. Watson diz também que as duas grandes graças essenciais ao santo nesta vida são a fé e o arrependimento. Uma de suas célebres frases sobre o assunto nesse livro é:

“Nenhuma ocasião é imprópria para o arrependimento; é de uso tão frequente como a ferramenta do artesão ou a arma do soldado”. 

Nessa obra, o assunto é explanado de forma clara e bem enfática. Com esse texto quero apenas esboçar o conceito, interessante de se perceber com o óculos do autor, que existe o verdadeiro e o falso arrependimento. Ele diz que seríamos mais felizes se sentíssemos mais profundamente o pecado, e se os nossos olhos fossem inundados de lágrimas. Citando Tertuliano logo nas primeiras páginas do seu livro (Watson, 1668), é dito que o mesmo achava que não tinha nascido para outro fim, senão para arrepender-se. Por colocar a fé e o arrependimento como as duas grandes graças essenciais para o cristão, Watson ilustra um exemplo: assim como quando uma vela é introduzida num quarto, a luz se mostra primeiro, mas a vela existia antes de se ver a luz, assim também vemos primeiros os frutos do arrependimento, mas os começos da fé já estavam presentes. De acordo com esse exemplo devemos concordar que o arrependimento é uma graça de Deus, no entanto, o dom da fé precede-o permitindo que a ação do arrependimento seja provocada por alguém já vivificado. 

Em Mateus 3.2, Atos 3.19, Atos 8.22 percebemos quanto o fundamento dessa doutrina é importante para edificação da igreja requerida pelo evangelho. O próprio Cristo em Mateus 4.17 usou nas primícias das suas proclamações essa verdade como fundamento e na sua ascensão deixou a ordem de que em Seu nome fosse pregado arrependimento (Lucas 24.47). Na confissão de fé de Westminster, capítulo XV- IV, nos é dito o seguinte sobre essa doutrina:

"Como não há pecado tão pequeno que não mereça a condenação, assim também não há pecado tão grande que possa trazer a condenação sobre os que se arrependem verdadeiramente". 

(Rm. 6.23; Mt. 12.36; Is. 55.7; Rm. 8.1; Is. 1.18).

O arrependimento pode ser falso e fabricado, Watson escreve afirmando a imitação por conta do medo da lei, por uma resolução passageira e por um falso abandono. Seu pensamento discorre por primeiramente haver uma sensação de amargura que o pecado promove, mas logo passa. Não se pode concluir, ser um verdadeiro penitente, aquele que sentiu alguma amargura pelo seu pecado, Acabe e Judas (p. ex.) tiveram alguma inquietação mental. Ele diz que uma coisa é ser um pecador aterrorizado, outra é ser um pecador arrependido. Sentimento de culpa é diferente da infusão da graça. Se a dor e a aflição fossem suficientes para o arrependimento, diz Watson, os condenados no inferno seriam os maiores penitentes. O verdadeiro arrependimento provoca mudança de coração, enquanto não existe, o que temos é um falso processo de culpa.  

Em segundo lugar, muitos fazem grandes resoluções em meio às aflições e dores. Eles prometem e fazem votos, no entanto, essas resoluções logo se desvanecem. É como uma neblina, na próxima tentação o seu coração é evidenciado da mesma forma. A resolução contra o pecado pode surgir devido a uma situação extrema de dor, não porque o pecado é grave e agride a santidade de Deus. Ou do temor de um futuro arruinado, causado pela morte e pelo inferno. O penitente será pressionado a fazer qualquer tipo de voto quando a beira da morte sabe-se que vai comparecer diante do tribunal de Deus. A precipitação por uma resolução provocará o Senhor, e Ele não terá por inocente aquele em quem não foi encontrado arrependimento genuíno. 

O último ponto sobre essa ilusão acerca do arrependimento pressupõe um determinado abandono dos pecados, porém sem a verdadeira motivação arrependida. Segundo Watson, o pecado pode ser abandonado, ainda que sem arrependimento. O verdadeiro abandono do pecado acontece quando os atos pecaminosos cessam pela infusão de um princípio da graça, como um ambiente deixa de estar escuro pela infusão da luz. Portanto, não devemos encobrir alguns pecados enquanto abandonamos outros, o verdadeiro arrependimento como diz Watson tem componentes que não podem ser reduzidos ou camuflados: visão do pecado, tristeza, confissão, vergonha, ódio e abandono. Todos esses componentes resulta num verdadeiro arrependimento para a glória de Deus.

O arrependimento é produzido pela Palavra pregada (Atos 2.37) e pelo Espírito (Atos 10.44) que convence o homem e aplica a Palavra nos eleitos, fora isso, todo o arrependimento é fabricado e encontra-se entorpecendo sua mente e emoções. O que posso dizer, além disso? Apenas que as Escrituras sejam o alicerce da sua vida e que você possa fazer a leitura desse incrível livro do Thomas Watson. Rogo ao Senhor que como uma flecha, esse texto seja direcionado e encontre o alvo do seu coração esfriado e endurecido pelo pecado, seja alvejado e volte-se ao Senhor.

“E rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes; e convertei-vos ao Senhor vosso Deus; porque ele é misericordioso e compassivo, tardio em irar-se e grande em benignidade, e se arrepende do mal.”

Joel 2.13
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Livro texto: Watson, Thomas. A doutrina do arrependimento. São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2012.

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