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17 de mai. de 2015

O Sermão Escatológico de Cristo (2/2)

Por Thiago Oliveira
A Grande Tribulação ou A Queda de Jerusalém (Mt 24: 15-21)
Devemos lembrar que o discurso de Jesus tem por base o questionamento duplo feito pelos discípulos. De início sua resposta tenta corrigir o equívoco de seus interlocutores, que achavam que a parousia aconteceria logo após a destruição de Jerusalém, por isso vai falar que o que está para acontecer com Jerusalém e também outros eventos no decorrer da história são apenas o começo das dores. 

Agora Jesus começa a falar mais especificamente sobre o cerco de Jerusalém (a primeira pergunta), que sucumbiu no ano 70 a.C. Utilizando-se de uma profecia de Daniel 11.31; 12.11 que fala sobre a “abominação da desolação”, Cristo remonta a um fato que aconteceu muito tempo antes, quando Antíoco Epifânio (175-164 a.C.) sacrificou um porco no altar do holocausto. A alusão é a de que a mesma profanação acontecerá quando os soldados romanos, que trazem a insígnia do Imperador adorado como um deus, cercarem a cidade (cf. Lucas 20.21). 
Diante do que acabou de revelar, a exortação do Senhor é que os seus discípulos deveriam fugir da cidade para os montes. Deveriam deixar o que estivessem fazendo, deixar para trás suas propriedades e fugirem para salvar as suas vidas. Jesus, diante da calamitosa situação, se apieda das grávidas e das que amamentam. Também revela como será difícil se tal cerco ocorrer num dia de inverno ou durante o Sábado. Os motivos da dificuldade seriam, respectivamente:  a) No inverno é um período de chuvas e existe a possibilidade de neve nos montes, local que Jesus indicou para que se abrigassem. b) durante o Sábado, muitos encontrariam resistência ou até mesmo falta de ajuda ao tentarem sair da cidade, pois boa parte da população não realiza nenhum tipo de trabalho neste dia. 

A tribulação referida no versículo 21 não deve ser entendida como aquela tribulação revelada ao apóstolo João e registrada em Apocalipse 7. A queda de Jerusalém é descrita aqui como uma tribulação sem equivalentes históricos. Embora a história registre diversas coisas horrendas, como a peste negra, holocausto nazista e outras calamidades, o evento do ano 70 a.C. registrado por Josefo no livro Guerra dos Judeus relata que mães matavam seus bebês e o comiam. Idosos eram espancados até a morte para que lhe roubassem os mantimentos. Todavia, o que torna mais grave este evento é que se tratou do fim da dispensação da nação de Israel como sendo a portadora da revelação especial. Israel foi rejeitada por Deus por ter rejeitado o seu Filho. Os cristãos, segundo sustentam diversos comentaristas e historiadores eclesiásticos, como Eusébio, conseguiram fugir do cerco por estarem atentos aos sinais preditos por Cristo cerca de quarenta anos antes. 

A Vinda do Filho do Homem (Mt 24: 22–33)

Muitos especialistas em Novo Testamento, como D.A. Carson, entendem que a tribulação abreviada não é referente à destruição de Jerusalém, mas sim a perseguição mais ampla que antecederá a vinda gloriosa do Filho do Homem. Um dos argumentos para isso, mesmo não sendo definitivo é no mínimo convincente, aponta para o fato de que os eleitos são compostos por pessoas de todos os povos (cf. Ap 5:9). A perseguição, ou seja, tribulação vai ser experimentada por todos os que compõem o Corpo de Cristo. Os dispensacionalistas estão equivocados ao ensinarem que a Igreja não padecerá e será arrebatada antes da grande tribulação assolar a terra. Não há respaldo bíblico e nem histórico para tal ensino, uma vez que os cristãos sempre padeceram pela sua fé. 
Durante o período atribulado, os pseudo-cristos e os pseudo-profetas aparecerão fazendo sinais milagrosos que se fosse possível enganariam os eleitos. Uns dirão que eles estão no deserto. Outros dirão que estão em quartos, aparentes para um grupo minoritário. Todavia, sua vinda será como um relâmpago no céu. Cristo será visto no céu por todo habitante deste planeta. Quando chegar o momento oportuno ele virá. Tal como os abutres sabem quando existe um corpo apodrecendo, Jesus Cristo saberá exatamente o momento em que virá para julgar as nações e buscar a sua Igreja para habitar com ele em seu Reino glorioso. 
O versículo 29 fala de portentos cósmicos que não saberemos precisar o quanto há de literalidade neles. O estilo profético é repleto de linguagem figurativa, todavia, mesmo que se tratem de metáforas para acontecimentos políticos, o certo é que haverá um cumprimento desta Palavra. Jesus utiliza o mesmo estilo dos profetas de Israel. Usando a parábola da figueira, que quando renova seus ramos é chegado o verão, Cristo alega que quando os sinais forem evidenciados no céu, a sua chegada pode ser dada como certa.

A Palavra De Cristo não Passará (Mt 24: 34-35)

O versículo 34 é, talvez, o que gere maior dificuldade para ser interpretado. Afinal, a quem Jesus se refere quando diz “esta geração”? E quanto a expressão “todas estas coisas”? Uma forma de se interpretar é aludindo a questão de que geração, no sentido usado pelos judeus, é um termo mais abrangente e que pode remeter a “raça” e não apenas aos contemporâneos dos discípulos. Ou seja: os judeus não seriam exterminados quando os romanos trouxessem a devastação. Eles sempre haveriam de existir para observar cada um destes sinais. 
A outra maneira de se interpretar esse trecho é aludindo ao que Jesus havia dito sobre o princípio das dores. Aquela geração viria todos os sinais que precedessem a tomada de Jerusalém, e este evento é o evento inaugural para que comesse a contagem regressiva para a parousia. Não que aquela geração viva no ano 30 d.C. viria tudo o que aconteceria na história até que Jesus surgisse dentre as nuvens, mas que ela veria os sinais do acontecimento que marcaria o princípio do fim. 
O versículo 35 é uma expressão que deve nos trazer conforto, pois não seremos enganados por palavras vãs. Jesus não mente e nem está equivocado. Tudo o que ele disse acontecerá. Devemos nos regozijar por termos sido avisados de antemão. Nada (perseguição, catástrofes, fome) deve nos pegar de surpresa. Fomos avisados pelo nosso Senhor. Portanto, estejamos atentos e vigiemos. 

Vigilância (Mt: 36-51)

A volta de Cristo, mesmo não sendo eminente, i.é. acontecerá mesmo sem que os sinais ditos por ele serem cumpridos, é imprevisível. Diante desta imprevisibilidade, assim como foi nos dias de Noé, a vida seguirá o seu curso natural. Uns casando, outros bebendo, e ainda outros trabalhando. E tal como o dilúvio cobriu a terra quando menos as pessoas esperavam, após anos vendo Noé trabalhando em sua arca, assim também, como um ladrão que não avisa a hora em que chega para assaltar, Jesus virá. 
Como a chuva não veio assim que Noé pôs o último prego na arca, também não saberemos o período que levará para que Cristo apareça no céu após se cumprirem todos os sinais que ele mesmo profetizou. Certo é que quando ele voltar, uns são levados (não sabemos ao certo se para sua presença ou para fora dela) enquanto outros ficarão. 
Essa aparente demora é um período probatório. Precisamos vigiar. Para ilustrar o princípio de nos mantermos vigilantes e não sermos surpreendidos com o repentino retorno do Senhor, Jesus conta a parábola do servo infiel (45-51) que age mal por achar que o seu patrão estava demorando. Ele será lançado num local junto aos hipócritas, pessoas que diziam servir ao Senhor, mas que eram maus obreiros, onde haverá choro e ranger de dentes. Portanto, é necessário estarmos prontos e sermos achados como obreiros aprovados que não tem do que se envergonhar (2Tm 2:15). 

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