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15 de abr. de 2015

O Ego como um obstáculo para a comunhão

Por Thiago Oliveira

“E dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me”.

Lucas 9.23

O Ego é o nosso “eu”, a nossa essência. Levando em conta os efeitos do pecado de Adão em toda a espécie humana, podemos afirmar que o ego foi afetado e tornou-se corrompido, desfigurando a imagem de Deus que havia no homem original. Sendo assim, o ego naturalmente nos transmite uma ideia ensimesmada de nós mesmos. Ele encontra-se inchado e esse inchaço faz com que ele seja oco e delicado.

Por isso, a porta de entrada para salvação começa com a mortificação do ego (ler Gl 2.20, Rm 6.6). Quando Cristo nos diz que para segui-lo temos que carregar uma cruz - e isso diariamente - devemos lembrar que todo o homem que carregava o madeiro estava indo para a morte. Estar disposto a morrer todos os dias é justamente renunciar os caprichos do nosso ego. A renúncia da autossatisfação é necessária para todo aquele que recebeu a salvação mediante a graça e foi incluído no Corpo de Cristo, isto é, a Igreja. Se vivemos segundo os ditames do Evangelho e o nosso ego continua inflado, os resultados não serão nada bons para a vida em comunidade.

A dilatação do ego causa desconforto, tal como um órgão de nosso corpo quando está inchado. Ele é frágil e, na tentativa de camuflar sua fragilidade, trabalha traçando comparativos com outras pessoas. Como bem observou C.S. Lewis:

“Dizemos que as pessoas se orgulham de serem ricas, espertas, ou bonitas, mas isso não é verdade. Elas têm orgulho de serem mais ricas, mais espertas ou mais bonitas que os outros. Se todos fossem igualmente ricos, ou inteligentes, ou bonitos, não existiria motivo de orgulho”.

Imagina esse tipo de competitividade movida pela altivez no ambiente eclesiástico. O entrave em estabelecer comunhão se dará na medida em que enxergo meu semelhante em Cristo como um rival, onde tenho que superá-lo em diversas áreas. Isso gera um espírito faccioso que não deve existir entre os santos que formam a Igreja. Vemos isso claramente entre os irmãos de Coríntios. O apóstolo Paulo sabia que o motivo de tanta desunião era resultante de um ego inchado (1Co 4.18 e 5.2). Os coríntios gostavam de se vangloriarem uns com os outros, e por isso são exortados - por Paulo - a abandonarem essa postura (1Co 4.6).

Uma visão superestimada de nós mesmos compromete a realidade dos fatos e causa ilusão até mesmo em nossa espiritualidade. A Igreja de Laodiceia se orgulhava por ser rica e dizia não ter falta de nada, todavia, aquela igreja era - segundo as palavras do SENHOR: desgraçada, miserável, pobre, cega e nua (Ap 3.17).  De igual modo, os fariseus tinham uma imagem distorcida de si e não se davam conta de que não eram tidos como justos diante de Deus. Isso está bem nítido na parábola que se encontra em Lucas 18.9-14.

Para termos plena comunhão com Deus e com a Igreja, faz-se necessário tomar o exemplo de Cristo e ter o mesmo sentimento que ele teve. Em Filipenses 2.5-8, o apóstolo Paulo ensina que Jesus, mesmo sendo igual a Deus, aniquilou a si mesmo, ou em outras palavras, esvaziou-se e assumiu a forma humana e a postura de servo. Sua obediência e humildade fizeram com que o mesmo fosse morto na cruz, como se ele fosse um criminoso. Vale ressaltar que este caminho trilhado pelo nosso SENHOR foi o oposto que fez Satanás e o primeiro casal no Éden. Estes últimos foram seduzidos a comerem do fruto para tornarem-se semelhantes a Deus (leia o relato da Queda em Gn 3).

Se nós somos cristãos de fato, temos que imitar a Cristo em tudo. Sendo assim, humildade se torna pré-requisito para termos a nossa cidadania celestial. Sobre sermos humildes, Tim Keller escreve:

“A pessoa verdadeiramente humilde não é aquela que se odeia ou se ama, e sim a que tem a humildade do Evangelho. É uma pessoa que se esquece de si mesma e cujo ego é igual aos dedos dos pés. Eles simplesmente exercem sua função. Não imploram por atenção”.

Este é o grande segredo: pensar cada vez menos sobre mim e mirar o meu olhar no outro. Em Romanos 12.10 diz que devemos dar honra aos outros e não procurar honrar a nós mesmos. Isso nivela por cima os relacionamentos na Igreja, pois, se cada irmão focar em zelar pela vida do seu próximo, todos serão bem assistidos em matéria de amor fraternal e ninguém se sentiria desprezado ou desconfortável, a não ser que essa pessoa sofresse de algum transtorno afetivo.

Viver os padrões do cristianismo é algo libertador. Se adotássemos a humildade que o evangelho requer de nós, tudo seria mais belo e prazeroso. Nos alegraríamos mais com as conquistas alheias ao invés de sentirmos inveja e nos cobrarmos para chegar no mesmo patamar do outro. Não nos frustraríamos por não alcançarmos as mesmas metas do nosso próximo, pois não competimos com ele. Viver assim é abandonar um fardo que tanto nos incomoda. Deixemos o Evangelho nos libertar da tirania da vaidade competitiva.

Cada um de nós, por ainda conter uma natureza carnal, precisa andar em vigilância. Todos, em maior ou menor grau temos problemas com nosso ego. O orgulho é um dos pecados mais sutis e mais comuns. Lembremos de que tomar a cruz é um exercício diário. É uma luta que travamos com Narciso. Precisamos vencê-lo, mas a nossa vitória está em Cristo Jesus. A nossa força vem do alto. Por isso, tomemos o seguinte trecho do Salmo 139 e façamos dele nossa oração:

“Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me os pensamentos; vê se há em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno”.

Salmo 139.23-24

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O Livreto “Ego Transformado” de Timothy Keller foi utilizado como referencial teórico para este artigo e as duas citações que faço foram extraídas dele. Recomendo esta obra de leitura breve, simples e impactante. 

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