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16 de abr. de 2015

Cuidado ao se referir a Deus utilizando termos humanos

Por Thiago Azevedo

Sabemos que a bíblia está repleta de trechos que possuem uma linguagem antropomórfica e antropopática. Ou seja, respectivamente falando, textos que visam dar a pessoa divina um atributo físico (mãos, olhos, pés) ou um sentimental (zelo, amor, raiva) próprio do homem. Antropomorfismo é a junção de duas palavras gregas ANTROPOS = HOMEM E MORFÊ = FORMA, logo, se tem o significado de forma de homem. Antropopatismo segue neste mesmo vácuo, a saber; ANTROPOS = HOMEM E PATHOS = SENTIMENTOS, logo, se tem o significado de sentimento do homem. Estes textos são de caráter pedagógico para que a compreensão da Bíblia se torne mais acessível, pois se não houvesse estes recursos literários no bojo das Sagradas Escrituras, sua compreensão seria muito mais complexa do que já é. Imaginemos a possibilidade de Deus – um ser perfeito e puro – nos comunicar sua revelação na sua linguajem restrita. Se isso ocorresse de fato, o homem jamais o compreenderia.

Há na bíblia diversos textos com estas características, os termos estarão em negrito para facilitar seu reconhecimento. Há a possibilidade também de um termo antropomórfico vir oculto no texto, neste caso, será colocado entre parênteses.

EXEMPLOS DE ANTROPOMORFISMO:

Gênesis 8:21 – “E o Senhor sentiu o suave cheiro (nariz), e o Senhor disse em seu coração: Não tornarei mais a amaldiçoar a terra por causa do homem; porque a imaginação do coração do homem é má desde a sua meninice, nem tornarei mais a ferir todo o vivente, como fiz”. (Aqui temos as palavras nariz de forma implícita no texto, pois Deus sentiu o cheiro de algo. E temos a palavra coração, todas em negrito).

I Pedro 5:6 – “Humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão de Deus, para que há seu tempo vos exalte” (Aqui temos a palavra mão em destaque).

Provérbios 15:3 – “Os olhos do Senhor estão em todo lugar, contemplando os maus e os bons” (Aqui se tem a palavra olhos em destaque).

Ezequiel 13:5 – “Porventura não tivestes visão de vaidade, e não falastes adivinhação mentirosa, quando dissestes: O Senhor diz, sendo que eu tal não falei ?” (Aqui temos a palavra boca subtendido, pois Deus alega que não falou).

O próprio Jesus em João 4:24 diz que Deus é espirito, logo, sendo espírito, não possui forma ou partes do corpo humano. Estas passagens funcionam como recurso pedagógico para a compreensão daquele que é perfeito e santo, pois, caso contrário, nem sequer teríamos uma noção da compreensão de divina.

EXEMPLOS DE ANTROPOPATISMO:

Gênesis 6:6 – “Então se arrependeu o Senhor de haver feito o homem sobre a terra e pesou-lhe em seu coração”. (Aqui se tem a palavra arrependeu).

 I João 4:8 -  “Aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor”. (Aqui se tem a palavra amor).

Provérbios 6:16 – “Estas seis coisas o Senhor odeia, e a sétima a sua alma abomina”: (Aqui se tem a palavra odeia).

 Ezequiel 13:13 –Portanto assim diz o Senhor DEUS: Fendê-la-ei no meu furor com vento tempestuoso, e chuva de inundar haverá na minha ira, e grandes pedras de saraiva na minha indignação, para a consumir”. (Aqui se tem as palavras furor e ira).

O próprio Deus revela que ele não é filho do homem para que minta ou que volte atrás com sua palavra Nm 23:19. Ou seja, Deus não volta atrás com sua palavra, portanto, não se arrepende. Tudo isso não passa de uma linguagem antropópata para que o homem entenda a revelação divina. A melhor tradução para a palavra nancham não seria o verbo arrepender como ocorre nas Bíblias em geral, mas sim o verbo confortar ou tranquilizar. Portanto, Deus não se arrepende. A melhor tradução então seria que Deus confortou-se ou tranquilizou-se em realizar tal evento ou exercer seu juízo sobre alguém. O que enfatizaria mais ainda o caráter antropópata do texto.

O grande problema da atualidade é que as pessoas têm exagerado nestas linguagens, algumas têm tentado humanizar Deus ao extremo, atribuindo-Lhe  atitudes, posturas e até sentimentos cada vez mais comuns do cotidiano do ser humano. Temos bons exemplos principalmente nas canções ditas cristãs: “Deus marcou na agenda” “Minha audiência ele já marcou” “Deus assina com caneta que a tinta não se acaba” “O martelo de Deus quando bate ninguém revoga” “Deus fica doente quando nós pecamos” etc. Existe até uma canção de um determinado grupo “evangélico” que a letra possui expressões do tipo: “vou esconder as sandálias de Cristo para ele não ir embora” “Eu quero vestir tuas camisas com as mangas maiores que meus braços” etc. O uso exacerbado destas linguagens acaba que banalizando a pessoa divina e tornando-O um homem comum como qualquer outro. Precisamos retornar às Escrituras e perceber que por mais que Deus tenha amado sua igreja e tenha elaborado um plano para sua salvação, Ele é santo – e o significado de santo é separado – e distinto totalmente do homem (a arca da aliança sendo carregada a distância dos sacerdotes por meio dos varais, o tabernáculo tendo um local específico para Deus pousar e Jesus quando proíbe Maria Madalena de lhe tocar ao se mostrar ressurreto a mesma, servem como bons exemplos).

Esta postura de reduzir Deus ao nosso ambiente humano é só mais uma característica dos tempos de crise que o evangelho vive, dos tempos de desprezo às Escrituras Sagradas e do apego aos ensinamentos humanos e as experiências místicas – essas práticas, na atualidade, valem mais que o conteúdo bíblico. Deus possui um padrão elevado e que muitos tentam rebaixar para parecer mais fácil e acessível. Alguns até “conseguem” enganar quanto a isso, mas é justamente por ter está impressão – de Deus como uma pessoa comum como qualquer outra – que as pessoas não o honram como Ele merece.

Os recursos literários citados neste texto foram nada mais nada menos utilizados pelos autores bíblicos com um fim específico, a saber: proporcionar um entendimento melhor da pessoa divina aos olhos humanos por meio de suas revelações, pois como poderia um ser perfeito caber na mente de um ser imperfeito, caído e completamente limitado como o homem? Agora que já se conhece o plano salvífico de Deus em direção à sua igreja, isso por meio da Sagrada Escritura, agora que toda soberania divina é notada na história da humanidade, tomemos cuidado com o uso do antropomorfismo e o antropopatismo exagerado para falar da pessoa divina. Pois eles podem ofuscar a verdadeira posição que Deus ocupa na história e obscurecer a distinta diferença entre Deus e os homens.

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