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29 de out. de 2014

Eleição Incondicional

Por Thiago Oliveira

Lutero, Calvino, Knox, Owen, Edwards, Spurgeon e muitos outros cristãos reformados ensinaram que a salvação é uma ação soberana de Deus e que o Livre-Arbítrio não existe. As Escrituras deixam isso claro:

Efésios 1: 3-5 –“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo; Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor; E nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade.”

Gostaria de reiterar o posicionamento reformado que tem sido ao longo dos séculos um mergulho na Palavra afim de que o Deus Trino revelado nos escritos sagrados seja glorificado entre os homens. O ponto central de toda controvérsia é a Predestinação ou Eleição Incondicional. Segundo a Bíblia, e não Calvino, como muitos pensam, Deus elegeu aqueles que seriam salvos antes da fundação do mundo. Ao aceitarmos tal ensinamento admitimos que nada feito por nós gerou algum resultado capaz de nos levar a Cristo e adquirir a bendita salvação. Nada! Toda boa dádiva provém do Pai das Luzes que de maneira soberana e irresistivelmente graciosa, trouxe os Seus de volta para Si. As correntes contrárias dizem que o homem tem participação no que tange a salvação. Será mesmo? Vamos um pouco mais fundo.

Para elucidar essa questão precisamos entender que lá no Éden o homem pecou ao ser induzido pela serpente a comer do fruto proibido. Esse evento é chamado de “Queda”. Os arminianos, isto é, aqueles que defendem o Livre-Arbítrio, precisam entender que ao cair a humanidade morreu, e não apenas se machucou. O homem não quebrou uma de suas pernas e mesmo manquejando ou se arrastando consegue ir até a presença de Deus e lá O adora. Efésios 2: 1 é taxativo: Estávamos mortos em nossos delitos e pecados.

Todos nós temos que concordar num ponto: Morto não toma decisões, é impossibilitado de fazer escolhas. No entanto, e se o homem tornar a viver? É possível isso? Para Deus sim. Como está escrito: Ele nos vivificou (Ef 2:5). Não é à toa que quando Jesus é interrogado por Nicodemos sobre o que fazer para herdar a vida Eterna, o Messias responde: Necessário é nascer de novo (leia o capítulo 3 do Evangelho de João e medite sobre essa conversa entre Cristo e o Mestre da Lei). Novo Nascimento é reviver transformado pela atuação sobrenatural do Espírito. É como na visão do profeta Ezequiel que viu Deus dar vida ao vale de ossos secos. Louvado seja o Senhor!

Quando falamos em Queda, estamos nos referindo ao evento mais trágico da história da humanidade, pois, a partir dele surgiram os males que nos assolam até o presente momento. O relato dessa desgraça se encontra em Gênesis 3 e, sobre ele, o já citado reformador - Calvino ¹ - escreve:

“Neste capítulo, Moisés explica que o homem depois de ter sido enganado por Satanás se rebelou contra o seu Criador, tornou-se totalmente mudado e degenerado, a ponto de a imagem de Deus, no qual ele tinha sido formado, ter sido destruída. Ele, então, declara que o mundo inteiro, que tinha sido criado para o bem do homem, caiu junto com ele da sua posição primária, e que neste estado muito de sua excelência natural foi destruída”.

O Apóstolo Paulo em Romanos 3:23 sentencia: Todos pecaram! E o pecado nos destituiu da Glória de Deus. O que isso quer dizer? Que fomos derribados de Sua presença. Expulsos de convivermos com Ele no Paraíso. Só que o apóstolo Paulo não acaba aqui a sua explanação e agora nos apresenta a boa notícia:

Romanos 3:24-26- “Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus. Ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus; Para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus.”

A redenção da Cruz nos torna justos e assim escapamos da Ira e da condenação. Isso não nos dá nenhum mérito. Tudo fez parte da Providência, não dando espaço para nos vangloriarmos de coisa alguma. O texto de Romanos segue:

Romanos 3:27-28- “Onde está logo a jactância? É excluída. Por qual lei? Das obras? Não; mas pela lei da fé. Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei.

No céu ninguém vai te abordar dizendo: “Fui salvo por orar 5 horas todos os dias e pelo sopão que entregava toda sexta. E você?” Esqueça a meritocracia e aceite a sua condição miserável de não achegar-se a Deus sozinho. Essas são as palavras de Jesus (Jo 6:44): “Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia.”

Mesmo correndo o risco de ser redundante, quero aqui elencar os seguintes pontos:

1. POR QUE NÃO ESCOLHEMOS A DEUS?

a) Porque estávamos mortos espiritualmente. Quem nos revela essa condição terrível é a própria Escritura. Anteriormente falamos da tragédia que foi a Queda e o seu resultado tenebroso. Não reconhecer essa condição de “mortos espiritualmente” não é uma refutação endereçada aos calvinistas, mas sim um agravante erro teológico, além de ser fruto de um coração obstinado e orgulhoso que se rebela contra a soberania divina no ato de salvar (Ef 2:1 e 5; Gn 2:17).

b) Nosso estado era de depravação total. Nossa consciência estava cativa aos desejos carnais. Vivíamos acorrentados pelos prazeres mundanos e não dávamos um passo sequer na direção de Deus. Estávamos imundos e nos sujávamos ainda mais. O Altíssimo em Sua Glória olhou para a humanidade e não encontrou ninguém capaz de fazer o bem. Entre milhões de milhões e milhares de milhares não havia um único justo (Ef 2:3; Rm 3:12; Jo 8:34).

2. POR QUE DEUS NOS ELEGEU?

a) Porque Ele é rico em misericórdia. O ato de eleger e salvar pecadores depravados é uma atitude graciosa. Graça é receber aquilo que não merecíamos. A Ira e o Inferno eram nosso devido pagamento, só que ao invés disso recebemos de Cristo o Perdão e o Céu (Ef 2:4 e 5; Rm 9:16).

b) Porque Ele é Soberano. Quem é o homem para questionar a Deus? Onde ele estava quando tudo foi criado? Que conselhos deu o homem a Deus? Tudo que o Senhor faz é perfeito. Ele em Sua infinita sabedoria planejou todas as coisas e não há nada que escape do Seu senhorio. Não devemos esquecer que Deus é onipotente, onisciente e onipresente e nós não passamos de verme (Jó 25:6; Rm 9: 18; Fl 2:13).

c) Ninguém tem motivos para se orgulhar diante Dele. Paulo é bem claro quando diz que a salvação não é por obras para que ninguém se glorie. Quando chegarmos perante o Justo Juiz, nada poderemos dizer que seja favorável a nossa sentença. Na Eternidade não vai haver alguém dizendo: Eu fui salvo por orar 3 horas por dia e distribuir “sopão” toda sexta-feira. E você, fez o que para estar aqui? Não fizemos nada para merecer o status de co-herdeiros com Cristo. Toda honra seja dada a Jesus. Porque d’Ele, por Ele e para Ele são todas as coisas (Rm 11:36; Ef 2:9; Rm 3:27).

A dificuldade em aceitarmos a Predestinação é a nossa natureza caída e totalmente inflada. Queremos porque queremos ter algum mérito, todavia a Palavra nos diz que só vão até a Cristo aqueles a quem o Espírito Santo revelar. Se você ainda não está convencido de que essa é uma doutrina genuinamente bíblica, e objeta que esse é um conceito paulino, vejamos que ela está presente no ensino de Cristo e dos apóstolos:

João 6:65 – “Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia.”

João 15:16 – “Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto em meu nome pedirdes ao Pai ele vo-lo conceda.”

Atos 13:48 – “E os gentios, ouvindo isto, alegraram-se, e glorificavam a palavra do Senhor; e creram todos quantos estavam ordenados para a vida eterna.”

2 Tessalonicenses 2:13 – “Mas devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados do Senhor, por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação, em santificação do Espírito, e fé da verdade.

Tiago 1:18 – “Por sua decisão ele nos gerou pela palavra da verdade, para que sejamos como que os primeiros frutos de tudo o que ele criou.”

1 Pedro 1:1 – “Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos eleitos de Deus, peregrinos dispersos no Ponto, na Galácia, na Capadócia, na província da Ásia e na Bitínia.”

Jesus, Lucas, Paulo, Tiago e Pedro estão afinados quanto ao ensino da Eleição Incondiconal. Mas caso alguém ainda tenha objeções a fazer, me adianto respondendo as mais comuns:

E para que serve então os Mandamentos?

Resposta: Para nos revelar a condição do pecado (Rm 3:19-20).

E a responsabilidade humana?

Resposta: No Éden, o homem feito à imagem e semelhança de Deus, no exercício de sua liberdade, escolheu pecar (Rm 5:12).

Seria injusto?

Resposta: Não. Pois, Deus não escolhe dentre inocentes, mas dentre pecadores culpados e indesculpáveis. Se não fosse a Eleição, todos pereceriam, pois todos merecem a Ira, ou seja, a punição por seus delitos (Ef 2:3).

Tudo me foi dado por Cristo. Sou justo, remido, Filho, co-herdeiro, mais-que-vencedor e nenhuma dessas qualidades me conferem honra. A única coisa que sei é que morri na queda e fui ressuscitado pelo Senhor Jesus. A iniciativa parte d’Ele, em amor. Louvado seja Deus. Finalizo aqui com uma citação de Martinho Lutero ²:

“Não existe tal coisa como mérito humano aos olhos de Deus, sem importar se esse mérito é grande ou pequeno. Ninguém merece ser salvo. Ninguém pode ser salvo através das obras. Paulo exclui todas as supostas obras do “livre-arbítrio”, estabelecendo em seu lugar apenas a graça divina. Não podemos atribuir a nós mesmos a menor parcela de crédito para nossa salvação; ela depende inteiramente da graça divina.”
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NOTAS:
1.CALVINO, João. Commentary on Genesis. 
(http://www.ccel.org/ccel/calvin/calcom01.html).

2. LUTERO, Martinho. Nascido Escravo.Editora Fiel.

Fonte: Cristianismo Simples